Aqui estamos na avenida
Pelas ruas, pela vida
Marchando com o cortejo
Que flui horizontalmente
Manifestando o desejo
De uma cidade includente
E uma nação cidadã
Traduzido numa canção
Numa sentença, num mantra
Num grito ou numa oração
Por todo jovem negro que é caçado
Pela polícia na periferia
Por todo pobre criminalizado
Só por ser pobre, por pobrefobia
Por todo povo índio que é expulso
Da sua terra por um ruralista
Pela mulher que é vítima do impulso
Covarde e violento de um machista
Por todo irmão do Senegal, de Angola
E lá do Congo aqui refugiado
Pelo menor de idade sem escola
A se formar no crime condenado
Por todo professor da rede pública
Mal-pago e maltratado pelo Estado
Pelo mendigo roto em cada súplica
Por todo casal gay discriminado
E proclamamos que não se exclua ninguém
Senão a exclusão
E proclamamos que não se exclua ninguém
Senão a exclusão
Aqui estamos nós de volta
Sob o signo da revolta
Por uma vida mais digna
E por um mundo mais justo
Com quem já não se resigna
E se opõe sem nenhum susto
A uma classe dominante
Hostil à população
Numa ação dignificante
Que nasce da indignação
Por todo homem algemado ao poste
Tal qual seu ancestral posto no tronco
E ao jovem que protesta até que o prostre
O tiro besta de um PM bronco
Por todo morador de rua, sem saída
Tratado como lixo sob a ponte
Por toda vida que foi destruída
Em Mariana ou no Xingu, por Belo Monte
Por toda vítima de cada enchente
De cada seca dura e duradoura
Por todo escravo ou seu equivalente
Pela criança que labuta na lavoura
Por todo pai ou mãe de santo atacada
Por quem exclui quem crê num outro deus
Por toda mãe guerreira, abandonada
Que cria sem o pai os filhos seus
E proclamamos que não se exclua ninguém
Senão a exclusão
E proclamamos que não se exclua ninguém
Senão a exclusão
Eis aqui a face escrota
De um modelo que se esgota
Policiais não defendem
Políticos não contentam
Uns nos agridem ou prendem
Outros não nos representam
E aquele que não é títere
E é rebelde coração
Vai no Face, no Zap, Twitter
E combina um ato ou ação
Por todo defensor da natureza
E cada ambientalista ameaçado
E cada vítima de bullying indefesa
E cada transexual crucificada
E cada puta, cada travesti
E cada louco, e cada crackeiro
E cada imigrante do Haiti
E cada quilombola e beiradeiro
Pelo trabalhador sem moradia
Pelo sem-terra e pelo sem-trabalho
Pelos que passam séculos ao dia
Em conduções que cansam pra caralho
Pela empregada que batalha, e como
Tal como no Sudeste o nordestino
E a órfã sem pais hétero nem homo
E a morta num aborto clandestino
Impelidos pelos ventos
Dos acontecimentos
Louvamos os mais diversos
Movimentos libertários
Numa cascata de versos
Sociais e solidários
Duma canção de protesto
Qual canção de redenção
Uma canção-manifesto
Canção-manifestação
Por todo ser humano ou animal
Tratado com desumanimaldade
Por todo ser da mata ou vegetal
Que já foi abatido ou inda há-de
Por toda pobre mãe de um inocente
Executado em noite de chacina
Por todo preso preso injustamente
Ou onde preso e preso se assassina
Pelo ativista de direitos perseguido
E o policial fodido igual quem ele algema
Pelo neguinho da favela inibido
De frequentar a praia de Ipanema
E pelo pobre que na dor padece
De amor, de solidão ou de doença
E as presas da opressão de toda espécie
E todo aquele em quem ninguém mais pensa
E proclamamos que não se exclua ninguém
Senão a exclusão
E proclamamos que não se exclua ninguém
Senão a exclusão
Dando à vida e à alma grande
Um sentido que as expande
Cantamos em consonância
Com os que sofrem ofensa
Violência, intolerância
Racismo, indiferença
As Cláudias e Marielles
Rafaeis e Amarildos
Da imensa legião
De excluídos do Brasil, do SUL ao norte da nação
E proclamamos que não se exclua ninguém
Senão a exclusão
E proclamamos que não se exclua ninguém
Senão a exclusão