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Fraga: Genius Brasil Recomenda #1 (2020)
Fraga: Genius Brasil Recomenda #1 (2020)Fraga, na linguagem popular, significa: "olha, observa, confere, saiba, tome conhecimento". Pode também ser traduzida em outra gíria: "saca".

Na busca por algo que represente a ideia de apresentar e trazer à tona artistas e obras que se apresentam longe dos grandes holofotes, essa gíria tipicamente mineira encaixou perfeitamente. A linguagem é uma das principais materialidades de uma cultura, e o rap por aqui expressa essa linguagem de forma exemplar.

São vários os discos que têm nos acompanhado neste 2020, um ano marcado por mudanças inesperadas. E mesmo diante de tudo que estamos vivendo, a música tem continuado a nos surpreender com artistas cada vez mais completos e originais.

Dentro do rap, é inevitável lembrar o disco homônimo da Bivolt, Dolores Dala Guardião do Alívio de Rico Dalasam, BRIME de Cesrv, Febem & Fleezus e Febre Amarela de Willsbife, como obras que vêm se destacando esse ano. Porém, para além daqueles "mais conhecidos", músicas de todo o país tem chamado atenção, nos proporcionando trabalhos únicos e com uma qualidade incrível.

O "Fraga" não é um ranking, a proposta da lista é sugerir, para aqueles que acompanham o Genius Brasil, 10 álbuns lançados em 2020 que apostamos e acreditamos que merecem um destaque maior.

Importante ressaltar que existem, além dos citados aqui, vários álbuns com uma qualidade excelente em outras partes do Brasil, contudo, por se tratar de uma recomendação, foram colocadas as obras mais ouvidas pela Equipe.Confira a lista completa abaixo:1. Attlanta, "Futuro" (MG)
Felizmente, as produtoras começam a ganhar a atenção que merecem e Attlanta é uma das que se destaca pela originalidade nas produções. Com estilos bem variados e muitos artistas que estão em ascensão, como Ashira, Tivityn e Og Capitu, Futuro tem se destacado em 2020 como um daqueles discos com tudo para ficar na memória por um bom tempo.
— kray2. CAZASUJA, "Dia de Preto" (RN)
Sem esmola pra segunda divisão, a Região Nordeste continua sendo a fonte da criatividade nacional. Se os holofotes não estão virados pro lado norte do mapa, nossos MCs viram eles pra cima na cara e na coragem e que a mídia mainstream seja forçada a olhar e reconhecer surpreendida quando nomes como CAZASUJA nos mostram onde vivem os monstros. Num álbum com a estética de trap, porém com sons e influências diferentes a cada música, um retrato fiel dos becos do Rio Grande do Norte é filmado, os rolés e o que o potiguar viu nas farras que viveu. Não podemos ignorar também as participações que abrilhantaram e muito o disco, Aura colando na barreira que descia o beco sem temer ninguém e Rasec contribuiu para a dicotomia do Paradoxo de Basquiat, avisando que o povo não pode seguir sofrendo enquanto lucram com nossa arte. Entre sonhos de liberdade e correntes que o apertavam, ele escreveu vários e vários raps que como o samba da Bahia, soam como resistência. Abram as portas que a próxima geração, chegou!
— João Vitor Félix3. Fernando Kep, "Vade Mecum" (RJ)
VADEMECUM, além de ser bem produzido, proporciona uma “viagem”de introspecção e auto análise, também feita pelo próprio Kep em relação a si mesmo, que instiga qualquer um que escuta o albúm. Retratando o momento de crise existencial e anseios que todo mundo passa na vida, ele segue fiel a sua proposta de representar quem o escuta. A obra não é monótona, porque traz o BoomBap, o Trap e até mesmo o Funk, fácil de agradar todo e qualquer freguês. Fraga!
— Luísa Dameão4. GRIFE, "SUPERNOVA"(RJ)
Após 7 meses em um hiato do mundo da música, GRIFE retornou com seu álbum de estréia, SUPERNOVA. O álbum nos coloca dentro da mente de GRIFE, em uma viagem pelos sonhos e ambições do artista. O rapper traz um estilo diferente de se fazer trap, apelando até para lados mais experimentais, como na faixa Tudo Que Ela Não Tem, com a participação e produção de DomLaike. O conjunto do trabalho nos mostra como GRIFE consegue se moldar para diferentes tipos de beats e waves ao longo dos trinta e dois minutos de duração.
— felipe ferreira.5. Lucas Boombeat, "Nem Tudo É Close" (SP)
Lucas Boombeat, conhecido por integrar o grupo "Quebrada Queer", apresenta em "Nem Tudo É Close" uma versatilidade surpreendente, passeando por diversos estilos diferentes (trap, boombap, funk e reggae), conta participações de peso como: Glória Groove, Ecologyk, Bivolt, Harlley e Murilo Zyess. Com letras que soam como um desabafo, Boombeat consegue transmitir o sentimento de cada faixa para o ouvinte, onde podemos notar a delicadeza ou ira de cada verso, ligado a cada batida.
O álbum reflete bem a vivência do artista, onde percebemos os conflitos sociais e pessoais vividos ali, sempre retratados com um tom de empoderamento e autossuficência.
— Letícia6. Mahmundi, "Mundo Novo" (RJ)
A carioca Mahmundi voltou à cena com seu novo álbum Novo Mundo, um verdadeiro bálsamo em tempos tão difíceis como os que estamos vivendo. Escrito e gravado antes da pandemia do COVID-19, o álbum traz a proposta radical de pensar em um mundo novo de encontros e de convívio real e serve como sequência perfeita ao seu álbum anterior, Para Dias Ruins (2018). Embora a chegada desse novo mundo ainda não tenha sido possível por conta da pandemia, o novo trabalho da Mahmundi é um verdadeiro oásis para a aridez do isolamento social, nos relembrando que ainda podemos encontrar um pouco de paz nos cantos mais singelos da nossa existência.
— FelipeAdao7. Marcola Bituca, "Os Últimos Filhos de Sião" (BA)
Assim como em Veterano (2019) de Gallo, Marcola consegue trazer em seu disco a estética de sua cidade ao rap, onde mistura o jazz, o ragga, o pagodão baiano e o afrobeat desde primeira a última faixa de forma magistral. As participações de Cabloco de Cobre, MCDO, em conjunto da energia de Cristal e o gingado de Rincon Sapiência são apenas um dos elementos que contribuem à versatilidade da obra, pois o swing, com uma mistura bem dosada de flows de Marcola, junto com a produção de Aquahertz, são o coração do álbum, um coração que pulsa a cada batida os ares de Itapuã, cujas emoções largam o doce em um contexto tão amargo que vivemos.
Discos como "Os Últimos Filhos de Sião" são necessários e merecem ser ouvidos para nos mostrar os novos ares que o rap está tomando: ares da versatilidade de um caminho esperançoso em que teremos mais Marcolas e mais música nordestina na cena. Obras que falam sobre suas áreas, mas que conectam o Brasil inteiro.
— Chermont8. Morenna, "Blá Blá Blá Deluxe" (ES)
Para quem perdeu o EP Blá Blá Blá no fim do ano passado, o Deluxe é um belo convite aos desavisados. "Cristal" complementa as demais músicas que já estavam presentes no disco e as novas versões da faixa que dá nome à obra demonstram a versatilidade da Morenna, uma artista que se mostra cada vez mais completa.
— kray9. Murica, "Sede" (DF)
O brasiliense Murica é daqueles artistas que bebem de várias fontes para significar sua musicalidade. Indo dos melódicos versos e samples de MPB a rimas irreverentes, 'Sede'—sequência de 'Fome,' de 2018—mostra os anseios de um jovem artista em meio às diversas influências e exposições de tal período. Assim, podemos definir o trabalho dele como alternativo—trazendo nomenclaturas já clássicas da música—, apresentando harmonias e percepções distantes das disseminadas no cenário mais popular do gênero. Essa junção dá um refrescante sentimento de pluralidade de harmonias, visões e experiências, em mais um representante do cenário despontante da capital federal.
— igor frança10. Young Piva, Celo Dut & Virus, "Maior Onda" (BA)
Já faz tempo que a "999" nos mostra talentos cada vez mais promissores e que trazem uma pegada nova para o rap nacional. Young Piva, Celo Dut e Virus trazem em "Maior Onda" suas conquistas e estilo de vida. Passeando pelos beats de Dactes, o EP absorve as influências do trap americano sem deixar de lado as origens soteropolitanas, tanto no estilo das músicas quanto em seus títulos, como se estivéssemos em um rolê pelas ruas de Salvador. É um EP que consegue mostrar bem a versatilidade e a sinergia do trio, e também é uma contribuição valiosa ao trap nacional.
— Chermont