Genius Brasil
Yunk Vino, ‘237 Deluxe’ (Análise)
Em constante evolução, Yunk Vino atende às expectativas geradas por seu álbum anterior e nos apresenta ‘237 DELUXE’.Desde a mixtape OFF, do hit "YSL" e de sua participação no álbum de Nagalli, junto da conhecida voz de Jé Santiago e de Veigh (que também aparece no Deluxe), Yunk Vino é, sem sombras de dúvidas, um dos nomes que mais chama atenção na cena do trap nacional. Em WISH, seu primeiro EP, Vino já se mostrava muito talentoso, mas esbarrava, infelizmente, em produções tecnicamente limitadas, o que é comum em projetos de estreia. Em OFF, mixtape lançada no ano seguinte, seu potencial é melhor direcionado, ainda que com déficits na identidade sonora, que se assemelhava bastante à nomes como Young Thug, Gunna e Travis Scott, Vino já mostrava-se bem mais maduro artisticamente, sabendo absorver com muita habilidade as influências americanas.
Capa de '237 DELUXE' desenhada por Lucas Ferreira que assina como Ferreirart.
Na introdução de 237 fica ainda mais notória a evolução e o talento de Vino, tornando-se uma das maiores promessas do gênero, e sendo inclusive, indicado à Artista Revelação no Prêmio Genius Brasil 2019. A estética sonora do rapper já estava muito bem construída e definida no seu último álbum, pecando apenas na estruturação do trabalho: um grande número de faixas, instrumentais semelhantes e participações distribuídas de maneira confusa, mas conseguindo manter sua identidade ao longo do projeto, e fazê-lo em alto nível.

Com um ótimo trabalho estético e boa produção, Vino nos mostra 237 DELUXE, mixtape que promete ser apenas uma extensão de 237, mas acaba sendo um grande passo à frente na carreira do artista. O projeto possui 14 faixas, com participações de Veigh, MC Igu, do artista português Sippinpurpp e do rapper paulista Leozin. A tape também conta com uma alta gama de produtores, como: MATHINVOKER, TRXNTIN, VT Beats, Scotz, Hayllan, Ecologyk e Nagalli. Assim como sua versão original, o álbum foi lançado pelo selo Labbel Records by Boogie Naipe, gravadora fundada por Mano Brown que tem como objetivo mapear e direcionar novos talentos dentro da música.
Vino e MC Igu. O rapper de Itapetininga está presente na faixa "Check", sendo que ambos já haviam colaborado na faixa "L.A.", da mixtape '@' de MC Igu.
Confira abaixo os comentários e avaliações da equipe:Yunk Vino inovou ao oferecer um deluxe só com músicas inéditas. E isso reflete muito bem o tipo de artista que ele é. Vino é uma máquina daquelas que quando se interna no estúdio traz projetos com grande número de faixas. E se para muitos esse pode ser um ponto negativo do artista, para mim é justamente uma de sua maiores virtudes.

Mesmo que os temas pareçam repetitivos, no 237 DELUXE ele demonstra sua capacidade de extrair o máximo de cada assunto e aprofunda a história contada em 237. Vemos isso acontecer por exemplo quando, a partir de um único verso de "R.S.S.", ele constrói toda uma nova música: "Rodeo". Percebemos, então, que o rapper nos deu uma "nova camada" a ser observada em 237 DELUXE, um storytelling, ainda que sutil. O fundamento para a “bih’ do Canadá” citada lá no 237, por exemplo, está na turnê mundial narrada por Yunk Vino e que passa, dentre outros lugares, por Toronto. Outro exemplo é o da linha sobre o “lean dentro da Dior”, de "Leans, Pt. 2", a qual gerou margem até para interpretações de guardar a droga dentro do vidro de perfume. Esse verso também ganhou uma "explicação", em 237 DELUXE e agora conseguimos imaginar claramente a cena narrada, não restando dúvidas de que falava sobre o status social que alcançou.

É bem verdade que toda essa análise das letras nem seria necessária, afinal estamos falando de um artista de trap que busca nos proporcionar uma vibe e uma viagem, que certamente já seriam possíveis “apenas” pela textura musical que ele e os produtores envolvidos conseguiram trazer para o projeto. Mas tudo isso somado a um desenvolvimento das letras melhora bastante a experiência.
— JGabriNesta mixtape, Yunk Vino resolve a maioria dos problemas existentes em '237', mas existem certos pontos em que ainda há o que se desenvolver. A qualidade das participações, quesito mais grave na primeira instância, é elevada em níveis astronômicos. "Plug", onde o rapper paulista Leozin encaixa magistralmente na onda e a química perfeita entre Veigh e Vino em "Normal" são pontos altíssimos ao longo dos trinta e cinco minutos de duração do trabalho. Também é necessário destacar a produção, que ficou por conta de sete produtores diferentes, o que muda o ritmo da mixtape e deixa a experiência totalmente fluida.

Vino desenvolve seu projeto de uma forma interessante, mas, infelizmente, sua ávida inspiração em artistas estadunidenses segura parte de seu potencial. Uma notável quantidade de faixas se assemelha muito ao trabalho de artistas gringos. Desde "Pills", faixa que na voz de Travis poderia estar em ASTROWORLD sem nenhuma discrepância, à "Off White", track a qual o beat tem claras influências de "Futsal Shuffle 2020", onde fica claro o espelhamento que o rapper tem. Vino já demonstrou que é um destaque no trap brasileiro. O projeto em si, é um grande passo em comparação à seu antecessor, mas o déficit de coesão entre músicas e alguns indícios de falta de originalidade dificultam o artista de abusar de sua enorme capacidade.
— felipe ferreira