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Kiko Dinucci, ‘Cortes Curtos’ (Análise)
O prolífico músico paulista assina sozinho um disco pela primeira vez, indo do punk ao samba, narrando a vida urbana e suas contradições
Kiko Dinucci. Foto: Taylor Ponto/ Divulgação

Quando pequeno, iniciou o gosto pela música com o punk, mas foi com o samba que ele se identificou e começou a tocar. Junto com Douglas Germano cirou o duo Moviola, no mesmo período que também produzia com o Bando AfroMacarrônico, ao lado, além do próprio Germano, Julio César, Alex Macedo, Railidia e Dulce Monteiro. Com a banda veio um EP homônio em 2008 e o duo rendeu o disco O Retrato do Artista Quando Pede em 2009. Já entendendo ele como artista independente o valor da internet na divulgação e distribuição de seu trabalho, sempre disponibilizando seus trabalhos para download gratuito.

Então vieram seus projetos que perduram até dias atuais. Em 2010 veio a estreia com o Metá Metá no disco homônimo, ao lado de Thiago França e Juçara Marçal. Em 2011 veio mais uma estreia, dessa vez com Passo Torto, também homônimo. Ambos destoando do tradicional samba, seja pela influência do punk e ritmos africanos, seja pelo experimentalismo e ressignificação da MPB.

Sempre envolvido e produzindo belas obras, Kiko finalmente estampo exclusivamente seu nome em um disco, mesmo ele afirmando não ser realmente solo. Os bons andam ao lado dos bons. É o que vale para grandes obras. Em Cortes Curtos temos as participações de Juçara, Tulipa Ruiz, Ná Ozzetti, Thiago França, Rodrigo Campos, todos já antigos parceiros. Inspirado nos cinemas e no som de Velvet Undergroud e a forma de retratar Nova York de Lou Reed em seu disco Transformer (1972). A vida urbana, suas contradições, absurdos, injustiças e suspiros de beleza.

Abaixo confira os comentários e avaliação da equipe:Kiko tem participado do que melhor tem saído por essas terras, seja no Metá Metá, Passo Torto ou em trabalhos de seus demais parceiros. Agora, em sua estreia solo, ele lança canções que já vinham sendo apresentadas há cerca de três anos, período em que já anunciava o disco. Como pequenos esquetes, como prevê o sugestivo título, as canções são narrativas da intensa, às vezes ensurdecedora, outras, sombria e deprimente vida urbana. Imersos em ruidosas guitarras, Kiko abraça a veia punk em uma pungência já apresentada em seu samba de vanguarda torto, o qual ele não abandona aqui, apenas condensa, tornando as camadas cada vez mais densas. Um ruído que é o grito de transtornos e visões alarmantes de um mundo caótico, descabido e inconsequente. Seja em momentos de esdrúxula intolerância em 'Uma Hora da Manhã', total desespero e desenquadramento em 'Vazio da Morte' e de profunda emoção e sutileza em 'Chorei', ponto alto do disco, retomando uma composição sua—essa é de Beto Villares—, inversamente direcionada, 'Ciranda do Aborto', também cantada por Juçara Marçal, por sua vez em sua estreia em Encarnado (2014). Vibrante, sarcástico, escrachado e cru, o músico entrega um disco intrigante na medida que é experimental e sincero na forma que é atual e sentimental. Dinucci é um dos grandes dessa geração.—Igor FrançaA musicalidade densa de Kiko Dinucci - já aclamado por trabalhos anteriores com músicos também dessa pegada, como Juçara Marçal, aqui presente na faixa “Chorei”-, traz um manuseio inteligente de experimentações, num encaixe perfeito de instrumentos e efeitos sonoros distorcidos, que configuram um som bagunçado, como se fosse uma colagem de todos os discos já feitos por ele, em um só. Na capa, há uma interpretação de desordem (o policial) e obra (os cálculos), dando a entender o aspecto rígido desse trabalho. Intercalando-se entre vocais agressivos e uns poucos mais intimistas, o músico, compositor e guitarrista das bandas Metá Metá e Passo Torto, nos mostra, mais uma vez, que ele se sobressai e ainda tem muito a oferecer no cenário musical experimental.—Ruthe MacielMembroNotaIgor França9Ruthe Maciel8FelipeAdao7GabrielYuji8kray8,5
Tudo o que venha de Kiko se gera grande expectativa e em sua estreia solo comprova que é um dos principais nomes do cenário alternativo brasileiro. Mais um título para lista dos melhores do ano.