São sete horas da manhã
Vejo o Cristo da janela
O sol já apagou sua luz
E o povo lá embaixo espera
Nas filas dos pontos de ônibus
Procurando aonde ir
São todos seus cicerones
Correm pra não desistir
Dos seus salários de fome
Ã^ a esperança que eles tem
Neste filme como extras
Todos querem se dar bem
Rio de Janeiro, 1999, Baixo Leblon
Edifício Fernando Castro
O dólar valendo o dobro do real
Eu moro no apartamento
2 com minha esposa Mia
Esposa, na verdade moramos
Juntos há uns quatro anos
Tempo suficiente para
Desgastar o nosso relacionamento
Ã^, não é só o Brasil
A gente tá em crise também
Num trem para as estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas
Estranho teu Cristo, Rio
Que olha tão longe, além
Com os braços sempre abertos
Mas sem protejer ninguém
No apartamento 4 moram Vera e Ernesto
O síndico do prédio
A Vera a gente quase não vê
Desde a morte do filho
Ela só sai do apartamento
Para ir ao cemitério
Eu vou forrar as paredes
Do meu quarto de miséria
Com manchetes de jornal
Pra ver que não é nada sério
Eu vou dar o meu desprezo
Pra você que me ensinou
Que a tristeza é uma maneira
Da gente se salvar depois
No apartamento 3, mora a chamada Bete
A gente não sabe direito o que ela faz
Só sabemos que não chega
Em casa antes das sete
Da manhã
Num trem para as estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas
Num trem para as estrelas
Depois de navios negreiros
Outras correntezas
No apartamento 1 moram as três melhores
Coisas deste prédio, o Justo, meu melhor amigo
Um paulista que mudou pra cá há quase um ano
E o Deco, um adorável escroto de marca maior
Sempre na minha cola
E por último mas não menos importante
O melhor baseadinho do Rio de Janeiro
Dos seus salários de fome
Ã^ a esperança que eles tem
Neste filme como extras
Todos querem se dar bem
Num trem para as estrelas
Depois de navios negreiros
Outras correntezas
Ã^ final de verão e as noites quentes que
Geralmente não me deixam dormir
Por falta de ar condicionado, também
Me dão inspiraçao trabalhar até quase de manhã
Sou poeta e como é fácil concluir
Estou desempregado
Estou desempregado
Num trem para as estrelas
Depois de navios negreiros
Outras correntezas