Drik Barbosa
Trincheira #ElasSim
[Verso 1: Luz Ribeiro]
Carrego a palavra “Patuá”
Como quem anseia sorte
Coloco ela à frente pra ter rumo, norte
A mesma vira escudo, adaga
Revide, morada
É tipo ter um corpo feito de água salgada
Se equilibrar nas próprias ondas
Que teme tudo e não teme nada
É aprender com o mar a retroceder e atacar
Relembrar e saudar quem veio antes
Angela, Conceição, Carolina, Maria e Clementina
Sementes, buquês, Espertirina
Compor poesia combustão
Pra dar base aos pés e força nas mãos
Decorar dialetos em yorubá
Cantar cantigas para Odoyá
E se preciso for
Fazer poemas, mandingas
Pra se auto resguardar
Escrever para garantir o pão de cada dia
Pedir benção pra quem já garantiu o pão
Rezar pela cria que tá na barriga
São simples os caminhos
Da palavra proteção

[Refrão]
Revide proteção
Escrita viva é munição
Mulher, palavra pro mundo
É quem dá direção
Revide proteção
Escrita viva é munição
Mulher, palavra pro mundo
É quem dá direção

[Verso 2: Mel Duarte]
Planto sementes de fala pra crescer raiz palavra
Reconheci essa força que me sustenta de forma sagrada
Fiz da escrita minha espada mais afiada
Mastiguei o verbo e te entreguei como oferenda
Numa bandeja de prata
Navego verso livre na folha
Quando o pensamento algema
Deixo a correnteza fluir
E transbordo poema
Me deram a caneta e eu escrevi
Com o microfone não foi diferente
Hoje registro a história que vivo aqui
Pra evocar a memória de meus antecedentes
Ouvi o chamado dos ventos
Ouvi o chamado dos ventos
Guardei um trovão no peito como talismã
E escrevi meus próprios enredos
Sob as bênçãos de minha mãe Iansã

[Verso 3: Pam Araújo]
Girassóis quando inicio poema
A sombra não me cabe
Escrevo pra pincelar minha alma com outro tema
Já escrevi sobre buraco e tecidos da vida
O livro que me livra
Espada de São Jorge na entrada é mandinga
Hoje brota e diz:
Que é poesia no toco pra encher o oco
A palavra me transborda a boca e escorre até os meus pés
E enlaça tudo o que sou
Das águas do meu Ori à terra do meu sol
Ora Yê Yé Ô no papel
O que seriam das minhas mãos sem o mergulho da caneta?
Para as que passaram e para as que virão
Escrevo para estalos de espetáculos que fora outrora silenciados
Me fiz poeta pra dar um bote nesse mundo
Agora, articulada e dona das minhas próprias palavras

[Refrão]
Revide proteção
Escrita viva é munição
Mulher, palavra pro mundo
É quem dá direção
Revide proteção
Escrita viva é munição
Mulher, palavra pro mundo
É quem dá direção

[Verso 4: Jade Quebra]
Chama, chama, chama, chama, chama
Cheguei!
Prazer, escritora
Autodidata, geneticamente avançada
Vigiando e sendo guardada
Leoa da selva jamais enjaulada
Na contra mão das linguagem
Eu tô me lixando se os boy num entendeu
"Criptogragíria", não codificou?
Esse é o mistério da quebra
Moscou, o cabelo avuou
Cês me limita em letramento
Onde a escola é treinamento
De quem aguenta por mais tempo
O não pertencimento
Quando falar não foi uma opção
Escrever foi salvação
A palavra é proteção da nossa história
E reconhecimento, antes não tinha autoestima
Hoje folgada, vivona e viveno
Bem colocada, armada de informação
Cada pedaço meu é letra de funk e inspiração
Palavra é palavra, memo no sentido amplo
Não só conto, rima, verso ou prosa
Proteção como palavra
É pedir bênção pra sua vó
Salve, dona Rosa! (Salve!)

[Verso 5: Carolina Peixoto]
Filha da cachoeira
Cria da cidade de concreto
Falo alto, falo fino, falo mesmo
Quando poemo, sinto
Costurar palavras
É arte de peito exposto
Pulsando o eco da gente
O oco do meu sexo
Não define o eu pessoa
Silêncio não é palavra feminina
A voz tem força
Que a boca desconhece
Pensamentos versam e guiam o caminhar
Poesia, oração
É alimento e armadura
As letras que me vestem
Rabiscam a fé que me ergue
Mulher é bicho-gente
Que sangra e que sonha
Eu lírica, sou grande

[Verso 6: Drik Barbosa]
Minhas rimas são refúgio
Dever me chama
Tudo em chamas, nóis é salvação, chama
Somos coragem que inflama
Língua Franca, palavra é proteção e manta
Poesia que eleva, sou flor que liberta
Me visto de amor, enfrento mundo
Causo mudança de hábito
Bem Lauryn Hill, na caneta, ganho o mundo
Minha fala é tática que muda estatísticas
Que nos fazem vítimas
Tô tocando mais corações que cardiologista
Minha fala é legítima
Visto preto por dentro e por fora, bora
Serena na quadra, marcando pontos
Ritmo e poesia conto minha história
Missão de curar toda vez que canto (chama)

[Refrão]
Revide proteção
Escrita viva é munição
Mulher, palavra pro mundo
É quem dá direção
Revide proteção
Escrita viva é munição
Mulher, palavra pro mundo
É quem dá direção
Revide proteção
Escrita viva é munição
Mulher, palavra pro mundo
É quem dá direção
Revide proteção
Escrita viva é munição
Mulher, palavra pro mundo
É quem dá direção

[Saída]
É quem dá direção
É quem dá direção
É quem dá direção
É quem dá direção