Zeca Baleiro
Contraposto
Estrada finda, eu voo
Cacimba seca, eu rio
O som abafa, eu soo
O tempo esquenta, eu frio
Saudade passa, eu vou
A mãe rejeita, eu crio
A sorte toma, eu dou
A renda esgarça, eu fio
Corrente quebra, eu elo
Fumaça encobre, avisto
Alguém não cuida, eu zelo
A roupa rasga, eu visto
O sono aperta, eu velo
O olho enxerga, eu cisco
O fogo apaga, eu Nero
O Demo gosta, eu Cristo
O muro isola, eu pulo
O passo apressa, eu manco
O gene altera, eu puro
O cravo prega, arranco
O saco estoura, aturo
O sangue jorra, estanco
Não aposto em nada imposto
Posto que me oponho e gosto:
Do angu que não tem gosto
Da canção que eu nunca mostro
Eu nasci pra contraposto
Mal passado eu sempre tosto
Te visito em pleno agosto
No postal que eu nunca posto
A febre aumenta, eu curo
A farra topa, eu banco
O preço baixa, eu caro
A praça cala, eu grito
O bloco avança, eu paro
O chefe atrasa, demito
O medo olha, encaro
A coisa acalma, agito
O pai renega, amparo
O mundo vero, eu mito