DonCesão
Corleone
[Verso 1: DonCesão]
Visto aquele velho paletó empoeirado
Sobre a minha mesa eu vejo o cinzeiro lotado
A fumaça do charuto, o ambiente perfumado
Uma taça, meio vinho e um roteiro inacabado
Vim pra terminar o que eu havia começado
O futuro a Deus pertence mas o meu já tá traçado
Sei que o fardo é pesado como o nome da família
S into-me honrado em seguir na dinastia
Meu destino, uma vida, uma chance, mais um dia
Os retratos na parede me prendem à nostalgia
Ponteiros do relógio que hoje já não se movem
Parados no tempo como histórias que comovem
Como o tempo em que os homens eram realmente homens
E a honra de um homem valia mais que seu nome
Lealdade e humildade, pra sempre ser respeitado
Respeitos de verdade, pra sempre ser relembrado
Respeito às lembranças, a meu sangue, a meu passado
Honro o nome dos irmãos cujo sangue foi derramado
Jamais esquecerei, rancor meu combustível
O inferno em meus olhos vermelhos já é visível
Queima dentro do meu peito o ódio irredutível
Vejo de frente pro espelho a raiva em último nível
Sinto a garganta seca e as batidas do coração
Minha sede é de vingança, vingança com as próprias mãos
Ver o medo em seus olhos implorando por perdão
Inimigo tenho vários, amigo conto nas mãos
Todos por um, apenas uma proposta
Judas me entrega e me vende por qualquer bosta
Se eu não ficar ligeiro já sabe qual a resposta
Brutus me apunhala e enfia a faca nas minhas costas
Olho pela janela e vejo a chuva no jardim
Crianças correndo entre as mudas de jasmim
E o silêncio fala alto, eu não escuto nem a mim
Vejo tudo em preto e branco, pressinto o início do fim
Sinto que um anjo me carrega em seus braços
Tô indo pro céu porque o inferno já tá lotado
Morri como homem, sei que isso não é pecado
Antes morrer em pé do que viver ajoelhado