Valete
Audiobook
[Letra de "Audiobook"]

[Intro: João Tamura]
(Por medo)
Por medo abdicamos de admirar as maravilhosas paisagens
Que existem para além da fronteira do tumor (Por medo)

[Verso 1: Valete]
Ideologia sem ação é fraude ideológica
Orgasmo sem amor é só descarga fisiológica
Eu vim da privação e dos subsídios
Tu 'tás a uma depressão do suicídio
Tenho genes de legionário, sou um génio visionário
Em qualquer género literário
Tenho molhos gramaticais em folhos emocionais
Meus olhos são funerais
Damaia ensina a dureza
Cêntimos a chocar no teu bolso, é um hino à pobreza
Tu ‘tás a uma fala de ser escória
Eu 'tou a uma bala de entrar na história
Rima azeda, não me rebaixo, só perdas onde me encaixo
Não sou de esquerda, eu sou de baixo, claro
Auto-estima dos teus é ópio, só Deus tem amor próprio
Na tuga o meu pai foi só um rafeiro
Só o coveiro é que foi hospitaleiro
Estudam-me como se fossem filólogos
E todos olham p'ra mim como se fossem psicólogos
Sou poeta do motim, a meta não 'tá no fim
Minha meta é chegar a mim, claro
Correrei corrosivo, rei incorruptivo, eu morrerei vivo
Teus sonhos defraudaram, mudaram os teus sonhos
Ou foram os sonhos que te mudaram? Diz-me
Obstinação de Galileu, se eu for como toda a gente
Quem será como eu?
[Refrão: Valete]
Verborreia lúcida é muito mais que música
O verso é o meu batuque
Valete é como um audiobook (Viris, viris)
Valete é como um audiobook (Viris, viris)
Valete é como um audiobook (Viris, viris)
Valete é como um audiobook (Viris, viris, viris)

[Bridge: João Tamura]
Por medo resignamo-nos à mediocridade, à rotina
Por medo prescindimos da verdade
Para nos refugiarmos na farsa

[Verso 2: Valete]
Entre o enfermo e o lúcido, sou o cruzamento
Eu sou eterno, o meu caixão será só um alojamento
Grafia única, não sei onde cabo
Na minha ecografia vês Deus a beijar o Diabo
Beefar é como ter chance com o panzer
Eu não me canso, o V só 'tá ao alcance do câncer
Não papo a tua igreja surda, só papo páginas de Buda
Meu Papa é Pablo Neruda
Um mandamento meu vale 100
Todo o ser humano é escravo de alguém
Quando o ânimo não tem gás, nem vale a pena tentares
Quem tem cérebro, não tem paz
Me'mo sem paz, reino em qualquer hemisfério
Do Íemen ao velho império, do sémen ao cemitério
Pa’ vencer não se vai de iate, tem que ser a nado
Queres um público pa’ amar ou um publico pa’ ser amado?
Limito-me à minha origem, debito
Trago vertigem, invicto como uma virgem
Esteta do R-A-P cosmológico, um poeta não precisa de relógio
Fama a mim não me tolda, fama abre várias portas
O coração abre todas
Não tenho fé em quem governa, sou São Tomé na caverna
Só tenho fé no meu esperma
Deus é orador e audiência
Ausência de evidencia não é evidencia de ausência, claro
Quase me deixaram cancelado
Podia bater palmas mas ‘tava crucificado, Jesus
[Refrão: Valete]
Verborreia lúcida é muito mais que música
O verso é o meu batuque
Valete é como um audiobook (Viris, viris)
Valete é como um audiobook (Viris, viris)
Valete é como um audiobook (Viris, viris)
Valete é como um audiobook (Viris, viris, viris)