Valete
Sorri
[Letra de "Sorri" ft. Valete]

[Intro: Valete]
Mano, sorri
Enquanto a vida corre
Porque um africano morre
Quando o seu sorriso morre

[Verso 1: Valete & Mário Viegas]
O colonialismo acabou, independência
Os tugas ja se foram, bro, a terra é nossa
Vê como a terra fica mais formosa vestida de negro
Sem esses tons palidos a destoar nas nossas roças
Vê como as crianças agora correm sem destino
Vê como o povo agora não poupa sorrisos
Já não há empregos, médicos, nem professores
Não há quadros formados, não temos doutores (Nada)
Não ha comércio, não ha serviços, não há nada
Os tugas bazaram, deixaram toda a gente condenada
Desempregada (We fucked up, hey)
(Onde estás, liberdade?
Que a libertação foi decretada)
Não há nada, nah não é assim
Vê bem, não é assim

[Verso 2: Valete]
O colonialismo acabou, por isso não há azar
Os tugas ja se livraram dos Caetanos e Salazares
Passado é história, eles são nossos amigos agora
Emigra p'a Portugal e começa uma vida nova
Aquilo é Europa, lá todos vivem bem
Sai desta miséria, vai, tenta ser alguém (Woo)
Trabalha, poupa dinheiro, faz disso lei
E depois volta p'á terra rico p'a viveres como um rei
[Bridge: Valete & Dino D'Santiago]
O colonialismo acabou
O colonialismo acabou
O mundo é teu, não sejas refém
(O mundo acabou, não sejas refém)

[Verso 3: Valete]
Isto é Lisboa, não ha sol todos os dias (Nah)
Muito cimento, flora só em fotografias
Tens compatriotas a construirem vilas
Que eles que eles chamam ghettos
Vai viver p'ó pé deles, eles têm os teus enredos
Tugas dizem que não podes ter outro desenlace
P'ralém dos trabalhos precários
Porque só tens a quarta classe
Mas a maioria dos tugas também só têm a quarta classe
Diz-lhes que na época colonial
Eles não queriam que tu estudasses
(Diz-lhes) que eles so queriam os pretos
P'a mão de obra escrava
Os putos sonhavam em ser doutores
Mas o sistema desinsentivava
Não stresses, vai trabalhar nas obras
E vê se não dormes tarde porque tens que acordar a horas
Entras às 7 horas, sais quando o sol se ausenta
Vais p'á tormenta diária que todo o africano enfrenta
P'a carregar centenas de tijolos e baldes de massa
Levantar vigas, man, como é que o teu corpo aguenta?
Aguenta, porque tu não podes ter outro trabalho
Os patrões sabem disso
E quando lhes apetece nem te pagam salário
(O colonialismo acabou)
[Refrão: Dino D'Santiago]
Quando a luz, quando o sonho
Quando tudo vai, quando a chama
Quando a força, quando tudo cai
Só te sobra o sorriso
Tu e mais ninguém
Acredita o mundo é teu
Não sejas refém

[Verso 4: Valete & Gutto]
Nem tudo é mau, olha como as tugas te adoram
Susurram que és robusto só com o olhar devoram-te
Vai e tenta conquistar essa aí da mercearia
Ela fica sem jeito sempre que lhe dás bom dia
Pediste-lhe para sair e ela disse "jamais"
Estranhaste porquê?
Tu és preto, não sonhes alto demais
Manca-te, fica aí com a tua compatriota
Casa-te com ela, tem filhos
E vê se segues a tua rota
Tu és preto man, manca-te
(É ter trabalho nas obras, Mc'Donald's e pouco mais)

[Verso 5: Valete]
Passaram-se trinta anos e 'tás pobre como 'tavas na terra
Desempregado, porque trabalho nas obras já não é o que era
Vieram os brasileiros, vieram os homens do Leste
Mão de obra barata com bem mais formação que tu tiveste
Estás fodido, derrotado e abatido
Afogas-te na bebida até perderes sentido
Olha p'ó teu ghetto, mais mil como tu
Olha p'outro ghetto, mais mil como tu
Tens quatro filhos, três 'tão na prisão
O outro tem doze e já se gaba
De ser fodido como os irmãos
Não era nada disto que tu sonhaste
Perdeste tudo neste primeiro mundo
Que tu nunca encontraste
Mas mano, sorri enquanto a vida corre
Porque um africano morre quando o seu sorriso morre
(Mas mano, sorri enquanto a vida corre
Porque um africano morre
Quando o seu sorriso morre)
[Refrão: Dino D'Santiago & Gutto]
Quando a luz, quando o sonho
Quando tudo vai, quando a chama
Quando a força, quando tudo cai
Só te sobra o sorriso
Tu e mais ninguém acredita
O mundo é teu, não sejas refém

(É ter trabalho nas obras, Mc'Donald's e pouco mais)

Quando a luz, quando o sonho
Quando tudo vai, quando a chama
Quando a força, quando tudo cai
Só te sobra o sorriso
Tu e mais ninguém acredita
O mundo é teu, não sejas refém