Léo Casa1
Big Bang
[Verso]
Eu vejo uma luz efêmera sair da câmara
Seria a lâmpada, seria a lâmina
Seria alguma cobra lá, a cólera de Andrômeda
Seria alguma víbora com sua presa a posta feito virgula
A jorrar veneno da mandíbula
A síntese maligna colega de Calígula
Mostrando sua amígdala, uma cena esdrúxula
Eu via a mágica mas não havia nenhum bruxo lá
E eu não posso cochilar, que pode ser um drácula
Um crápula, um homem sem escrúpulo faz tudo pelo lucro
E o desejo de cópula, eu não perco o foco lá
Perco a nota mas não perco a ópera
E quem nunca beberá do copo da soberba?
Só beba um gole, fico ébrio mas eu me sinto sóbrio
Um dia esse hábito vai me levar ao óbito
Não sou nenhum Heráclito, filósofo
Para saber que o fim é próximo
Um dia o sol virá e feito um fósforo transformará tudo em pólvora
E o povo lá vendo na areia o sal quebrar
E o oceano engolindo o mundo feito pálpebras
É o fim de qualquer dogma, de qualquer álgebra
Pitágoras e Bhaskara, será o apocalipse
Algum eclipse a cobrir a noite feito o Máskara
E não será metáfora e não haverá células
Talvez uma partícula vagando por aí
Feito libélula como se fosse o fim de uma película
Dessa vida ridícula, incrédula, estúpida
Não me culpe, tá? Se amanhã não houver música
Se tudo se acabar numa década, num século
E algum ser acéfalo em algum canto nascerá
Será um ser tão ínfimo e tão supérfluo
Algum mamífero, um réptil, um ser intrépido
Alguma bactéria que criará um cérebro com veia e artéria
Matéria de amalgamar, em algum pântano
Com alma pra criar um âmago, esôfago, estômago, e o fígado
E o fogo do Olimpo de algum Prometheus
Será filho de deus um sopro de uma luz tão nítida que ninguém preverá
Nenhum oráculo, horóscopo, binóculos, tão ótimos
Capazes de ver um átomo será tão rápido
Não haverá cronômetros
Será algum fenômeno que ninguém saberá
Não estará escrito no versículo, capítulo da fábula
No paralelepípedo da lápide da távola e et cetera
Não passará de uma parábola
E o tempo parará no ar que nem helicóptero
Enunciando a véspera de algum futuro próspero
De alguma vida áspera a nos esperar