Vitor Rocha
Vai Lhe Rasgar
[ROSAURA]
— Com muita sorte ocê chega lá, menino. Ocê é só um pedaço de paper, Moleque, que o mundo rasga, pica em pedacinho e ainda joga pra cima!

Essa hora ia chegar, eu sabia
Ocê ia querer bem mais que a mim
Mas antes do fim devo lhe alertar
Que o mundo é frio e cruel, vai lhe rasgar

[MOLEQUE]
— Ô, dona Rosaura, por que ocê tá falâno um trem desse, uai?

[ROSAURA]
Pessoas são estranhas, dizem querer teu bem
Te julgam, te humilham, mas na igreja: Amém
E dizem: Te amo, não vivo sem ti
Mas passam-se os anos: Ocê por aqui?

E se ocê inovar, vão te crucificar
Pois ser diferente é um crime
É triste, eu sei, alguém se preocupar
Não com o jogo, mas com o time

O mundo é um pouco mió do que a morte
Pois lá ainda da pra morrê
Mas se ocê não acredita e acha que tá com sorte
Bem, o que é que eu posso fazer?
Pessoas são coisa, coração são troféu
Cabeça, degrau, ideia, chapéu
O tempo é dinheiro, famía? Bobagem
Papéis valem ouro e contatos, vantagem

Mas mesmo assim, eu vou lhe alertar
Que o mundo é frio e cruel, vai lhe rasgar

[MOLEQUE]
— Ô, dona Rosaura, não vai não, sabe por quê? Porque Eu vou sê forte!

[ROSAURA]
— Forte? Até pedra lá fora sozinha vira areia, meu fío!

[MOLEQUE]
— Ué, mai eu não tô sozinho. Eu tenho o Cargas

[ROSAURA]
— Ah, ocê tem o Cargas? Boiada derruba barranco, mai vaca sozinha na estrada, carreta pega de frente!

E antes do fim, devo lhe alertar
Que o mundo é frio e cruel, vai lhe rasgar