Vitor Rocha
Rádio/O Vento
[CHARLES]
— Aquela artura não muito arta da vida, o nosso protagonista só tinha mémo uma coleção de doze aniversários comemorados sem a presença do pai, mas tava agora, óia, pra começá uma coleção novinha em fôia… só que de domingo sem a farofa da mãe

[MOLEQUE]
— Foi então que eu descobrí que eu podia fazer uma coleção coisa muito mió. Uma coleção tão especiar que não podia ser roubada. Uma coleção tão especiar que não podia nem ser vista. Foi ouvíno o rádio…

[PEPITA]
Nós somos as cantoras do rádio
Levamos a vida a cantar

Mamãe, eu quero
Mamãe, eu quero
Mamãe, eu quero mamar

Bandeira branca, amor
Não posso mais

O vento é que nem a vida
E a gente, planta sofrida
Se inventa de ventar forte
Parece que vai nos dobrar

No entanto, se o verão estrala
E o Sol nos racha a cara
Daí vento é artigo de sorte
Pois serve pra refrescar
[MOLEQUE]
— Não é uma lindura? Não dá vontade de guardá? Foi então que eu decidi começar a minha coleção, uma coleção de vóiz. Eu decidi que ia me lembrá pra sempre de todas as vóiz que escutasse na minha vida, daí no finar da minha vida eu ia tê uma coleção muito maior do que quarqué outra coleção... É. Quando a mamãe morreu, eu fiquei só com essa minha coleção - que ainda era muito miudinha de vóiz, né? - uma mania que eu tenho de imaginá tudo de ruim que pode acontecê… E o padrasto

[MÃE e MOLEQUE]
Mió do que com o vento
Vou comparar a vida com água
Ocê deixa escorrer o tempo
Pra tentar diluir as mágoa