Vitor Rocha
Chegança
[PEPITA (e MOLEQUE) [e MOLEQUE e CHARLES]]
Ê, Ê, Ê
(Ê, Ê, Ê)
[Ê, Ê, Ê, Ê, Ê, Ê]

[PEPITA]
— Essa história se passa no Brasil. E começa aqui, bem no meio dele, só que um cadinho mais pra cá...

[MOLEQUE]
— A minha história começa na terra onde um lazarento foi rezá um Pai Nosso e por módi o nosso jeito de falá anssim, acabou pedíno:

[TODOS (rezando)]
— Livrai-nos de todo o “mar”, amém

[CHARLES]
— E aí se sucedeu de sobrá só mémo rio e cachuêra pro povo aqui de Minas Gerais!

[PEPITA]
Eu peço um beijo e um pão de queijo
Pra módi nóis a história começá
Peço humildade, fica à vontade, viu?
Só que desliga a merda do celular

[MOLEQUE]
— Ô, gente! É, desculpa a grosseria aí, viu? Perdão. Mai qué saber dum trem? Vai se desligando, se desligue do mundo de lá fora e se prepare pro mundo que vai se passar aqui dentro, no quintar da imaginação!
[PEPITA]
Essa cantiga é muito antiga
Parece inté dá fadiga
Mas é fácil acompanhá o violão
Difícil é vencê cansaço
E nunca saí do compasso
E sustentá as batida do coração

[MOLEQUE]
Eu peço carma e um pouco de arma
Pra contar tudo que aconteceu
É musicar, é autorar
Se ocê não gosta pode ir com Deus

[CHARLES]
— Que pode ir com Deus o que, criatura? Ói, gente, fica viu? Fica, mas já fica ciente que aqui as coisas funciona dessa seguinte maneira: às veiz, nóis vai pará de falá e vai começá a cantá do nada. Mas é só pra módi enfeitá um pouco as parte feia da história que, ceis vão ver, não é pouca coisa não!

[MOLEQUE]
Eu tive um sonho tão tristonho
Tão bisonho, tão medonho
Agora nunca mais me ponho a sonhá
Uma mania eu fui pegâno
Eu acabei me acostumâno
Eu mal bocejo e já quero me beliscá

[CHARLES]
História bem comum, de quarqué um
Nóis nem promete que vai emocioná
Independente, feita pela gente
Pra confundí e não pra expricá
[PEPITA]
— Curtinha, de borso mêmo, que é pra espaiá mais fácil. E ó, vai passá num estalo, mais rápido que furacão, mas vai fazê a mêma baderna que um furacão faz

[MOLEQUE]
— Que troço é esse de furacão aí? Nunca ouvi falar desse trem não

[PEPITA]
— É aquele negócio que leva as vaca...

[CHARLES]
Pois tudo turva, tudo entorta
E que nem naváia corta
Nosso peito em dois pedaço feito pão
Mas peito é mais delicado
É um cadinho compricado
E não se junta com mantêga ou requeijão

[CHARLES]
— E é através da jornada dessa criatura, que hoje nóis vamo falá sobre uma coisa que todo mundo aqui tem

[PEPITA]
— O amor?

[CHARLES]
— Não! É o Medo!
[MOLEQUE]
— Sabe qual o meu maior medo? A gente fazê uma introdução tão grande que o povo tudo se desinteressa na primeira cena, uai

[PEPITA]
— Eita, é verdade, ô! Aperta o passo!

[CHARLES]
— Então termina logo a música e vamo pra história!

[PEPITA (MOLEQUE) [CHARLES]]
Essa cantiga (Eu tive um sonho) [Pois tudo turva]
É muito antiga (Tão tristonho) [Tudo entorta]
Parece inté dá fadiga (Tão bisonho) [E que nem naváia corta]
Mas é fácil (Tão medonho) [Nosso peito em dois pedaço]
Acompanhá o violão (Agora nunca mais me ponho a sonhá) [Feito pão]

Difícil é vencê cansaço (Uma mania eu fui pegâno) [Mas peito é mais delicado]
Nunca saí do compasso (Acabei me acostumâno) [É um cadinho compricado]
E sustentá as batida (Eu mal bocejo e já) [E não se junta com mantêga]
Do coração (Quero me beliscá) [Ou requeijão]

[JUNTOS (MOLEQUE)]
Essa cantiga é muito antiga
Parece inté dá fadiga
Mas é fácil acompanhá o violão

Difícil é vencê cansaço
Nunca saí do compasso
E sustentá as batida (do coração)