DJ Caique
Noite Fria
Letra de "Noite Fria", por Ogi

[Intro]
Eu conto histórias das quebradas do mundaréu
Lá de onde o vento encosta o lixo e as pragas botam os ovos
Fala da gente que sempre pega a pior
Que come da banda podre
Que mora na beira do rio e quase se afoga toda vez que chove
Que só berra da geral sem nunca influir no resultado
Falo dessa gente que transa pelos estreitos
Escamosos, esquisitos caminhos do gonçalo do bom Deus
Falo desse povão, que apesar de tudo
É generoso, apaixonado, alegre
Esperançoso e crente numa existência melhor
Na paz de Oxalá

[Sample]
(Pois, na fria noite)

[Verso 1]
Ahhh! Lá estava eu na cena que jamais esquecerei
Eu, mais dois amigos, na ideia que citarei
Se perguntarem para eles como foi aquela sexta 13
O chicote estalou milhões de vezes
Eu corri para alcançar o último busão pro centro da cidade
Noite fria, arsenal trazia na bagagem
Walkman, ouvindo Sabotage
A rua tá tranquila, isso deve ser miragem
Desci na Miller, com a Maria Marcolina
Senti o odor da creolina e a chuva fina cai do céu
Fui pelo Brás até a Luz, depois pro terminal Princesa Isabel
No pique pro arrebento, trombei meus manos
Na madrugada, eu tava atento e tinha planos, ha-ha!
Decidimos cair pra zona norte (e aí?)
Adrenalina era o nosso esporte

[Sample]
(Pois, na fria noite)

[Verso 2]
Logo que eu desci do buso, eu vi
Um beiral de pastilhinha de oitenta e nove
Meu comparsa sorri, já pensa em subir
Mas eu vejo um giroflex na esquina e a viatura surge
Na neblina, eu dou a fuga e meus comparsas também vêm
Felizmente, os ratos, dessa vez, não vão pegar ninguém
Mas foi um engano, eles fingiram que não viram
Mas da esquina ficaram passando um pano
Shhh... Vamos sair na maciota
Ahh, não sei se é tático ou ROTA
Pulo com meus aliados pra casa do lado
Tentando fugir dos gambés
Fomos interceptados por cães adestrados
Tentando morder nosso pé
Vi que uma luz acendeu, morador acordou
Quando um grito ele deu e logo nos caguetou
Não teve fuga, chegou a nossa hora (vai, vai, vai!)
Com as mão pra cima, nós saímos pra fora

[Sample]
(Pois, na fria noite)

[Verso 3]
Ahhh! Assim que saímos, com socos fomos recebidos
Meu truta se viu humilhado e disse: "não somos bandidos!"
Aquilo evocou a fúria, pros tiras, soou como injúria
Me lembro bem do momento
Quando eles começaram o espancamento
Meu truta desacorda-do, todo zoa-do, feio na foto
Pois foi massacrado de um jeito que dá dó
Numa noite fria, eu vejo o sangue do meu mano
Sobre a bota de um marginal fardado
Revolta vem e a minha alma encarde
Pois eu me omiti, confesso, me senti covarde
Gravei os rostos deles e vou denunciá-los
Mas as fardas não têm nomes, como identificá-los?
Eu vejo o meu final de um jeito tão banal
Ele apontou pra mim, puxou o gatilho
Paw! Paw!